Ponte da Pedra (Fase II)

Certificação em 2007

Classificação: A (desempenho ambiental 50 % superior à prática actual)   

Localização: Matosinhos

Promotor: NORBICETA - União das cooperativas de Habitação, U.C.R.L.



 

Projecto:  Carlos Coelho - Consultores, Lda.

Controlo Técnico: CPV - Controle e Prevenção de Riscos, S.A.

Coordenação de Higiene, Segurança e Saúde: SOPSEC - Sociedade de Prestação de Serviços de Engenharia Civil, Lda

Construção: J. Gomes, Sociedade de Construção do Cávado, Coordenação de Higiene, Segurança e Saúde: SOPSEC - Sociedade de Prestação de Serviços de Engenharia Civil, Lda.

Tipo de uso: Habitacional

Inserção: Zona urbana

Financiamento da Construção: Instituto Nacional da Habitação

Área de implantação: 3 105 m²

Área bruta de construção: 14 852,40 m² (101 fogos)



                                Figura 1 - Pormenor do Empreendimento


O Conjunto residencial da Ponte da Pedra, promovido pela NORBICETA - União de Cooperativas de Habitação, U.C.R.L., situada em Matosinhos, substitui uma zona industrial degradada, valorizando o local de implantação, na medida em que, para além da operação habitacional, se procedeu a uma acção de regeneração ambiental e urbana. Este Conjunto Residencial é constituído por uma primeira fase, a qual conta com 6 Blocos, os quais contemplam 150 habitações, um equipamento educativo e cultural a norte do novo arruamento e um equipamento desportivo a meio da área habitacional.

A segunda fase do Empreendimento, constituída por 2 blocos (Bloco 7 e Bloco 8 - 101 habitações, tipologia T2 e T3), prevê ainda a criação de um equipamento infantil, parque público e espelho de água, peça escultórica, com zonas ajardinadas e vias pedonais em todo o Empreendimento.

Esta segunda fase, concluida em Setembro (Lote 7) e Novembro (Lote 8) de 2006, representa a participação portuguesa no Projecto SHE (Sustainable Housing in Europe) e surge na sequência da candidatura desta fase a esse mesmo Projecto. O Projecto SHE é um projecto- piloto desenvolvido a nível europeu, co-financiado pela UE, incluindo-se no Eixo nº 4 – Cidades do Futuro e Herança Cultural, do 5º Programa Quadro de Investigação: Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.




  Figura 2 - Projecto Ponte da Pedra Fase I

Figura 3 - Projecto SHE de Ponte da Pedra Fase II


O Projecto teve como objectivo demonstrar a viabilidade da Habitação Sustentável do ponto de vista económico, ambiental, social e cultural, utilizando, para tal, construções cooperativas europeias. Durante o uso das habitações, serão desenvolvidas acções de monitorização a esses níveis com o propósito de demonstrar, com resultados concretos, a viabilidade, importância e vantagem da construção sustentável.

Em Portugal, o Projecto foi desenvolvido em parceria pela NORBICETA - União das Cooperativas de Construção, U.C.R.L., pelo Departamento de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e pela Federação Nacional das Cooperativas de Habitação Económica, U.C.R.L, dando assim origem ao Primeiro Empreendimento Cooperativo de Construção Sustentável em Portugal. Desta forma, será possível efectuar uma análise comparativa entre o desempenho ambiental dos dois projectos, o que efectivamente poderá evidenciar a importância da aplicação de medidas de sustentabilidade na construção (Soares, 2005), relativamente aos aspectos ambientais, económicos e sociais envolvidos (informações a serem fornecidas pela Norbiceta).

No caso deste empreendimento, verificou-se uma aposta clara na adopção de medidas sustentáveis de baixo custo, aplicadas na regeneração de uma antiga fábrica de curtumes. Neste caso importa salientar a adopção de medidas bioclimáticas, o aproveitamento de águas freáticas e a adopção de sistemas múltiplos de aproveitamento de águas, como medidas que contribuíram para alcançar um bom desempenho ambiental.



Avaliação pelo LiderA

A avaliação do empreendimento Ponte da Pedra (Fase II) pelo Sistema LiderA, versão piloto V1.01 foi desenvolvida durante o ano de 2006, tendo sido realizada pela equipa de avaliação do LiderA: Liliana Soares, Prof. Manuel Duarte Pinheiro e Filipa Fonte. A avaliação foi efectuada considerando a totalidade dos espaços exteriores e dos edifícios residenciais inseridos no empreendimento, sendo que envolveu os 3 105 m² da área de intervenção. É consequentemente uma avaliação exclusiva do sector residencial do empreendimento e foi efectuada para a sua fase de projecto.



Local e Integração



Solo

O projecto Fase II da Ponte da Pedra demonstra preocupações na análise do local e das suas características, nomeadamente através do levantamento prévio das especificidades do local e da sua integração no projecto, destacando-se a procura de uma gestão de águas locais, assegurando as funções ecológicas do solo (C2). Para além deste aspecto, o facto do empreendimento se localizar numa antiga zona industrial, tendo-se recuperado uma zona degradada, é também um factor de destaque no que respeita à selecção do local (C1). Existem também nas proximidades ao local, acesso a transportes públicos.



Amenidades

Nas proximidades do local, existem também várias amenidades locais (C7)  entre as quais se salientam: as humanas, nomeadamente banco, mini-mercado, frutaria, talho, farmácia, café, cabeleireiro, localizadas na rua principal de acesso ao empreendimento, e os equipamentos desportivos, localizados na fase I do empreendimento; e as naturais, nomeadamente uma ribeira a menos de 500 m e jardins públicos (no local).



Recursos



Energia

As medidas aplicadas demonstram uma efectiva preocupação na adequada gestão energética, que passam pela utilização de medidas solares passivas, melhorando o desempenho energético passivo do edifício (C10), e activas, que permitirão reduzir o consumo de electricidade (C11), aproveitando energia solar para AQS e aquecimento dos apartamentos, ou seja, recorrendo a outras formas de energia renovável (C14).



Água

Existem também medidas que permitam uma adequada gestão da água no interior das habitações (redutores para as torneiras, descargas de sanitas de 3 e 6 litros, aproveitamento de águas pluviais para a sanita, etc.), contribuindo portanto para a redução do consumo de água potável nos espaços interiores (C16). No exterior dos apartamentos são também aplicadas medidas para reduzir os consumos de água em espaços comuns e espaços exteriores (C17), nomeadamente através do aproveitamento de águas pluviais para rega e da introdução de sensores de humidade, que permitem detectar a necessidade de rega. O facto de se ter implementado um sistema de recolha e armazenamento das águas pluviais, de escorrência superficial na área do empreendimento e de infiltração nas garagens, depois utilizadas, como referido, nas sanitas e rega de jardins, contribui efectivamente para a gestão de águas localmente (C20).



Figura 4 - Pormenor construtivo da parede dupla e isolamento das caixas de estores

Figura 5 - Construção da cisterna de armazenamento de água



Materiais

Verificou-se uma preocupação na utilização de materiais locais (C22) preferencialmente localizados nas zonas Centro e Norte, num raio de aproximadamente 100 km, apresentando certificados de qualidade.



Ambiente Interior



Qualidade Ar Interior

Relativamente ao ambiente interior  A adequada ventilação natural (C36) das habitações, associada à ausência de aparelhos de ar condicionado, irá permitir estabelecer padrões adequados de qualidade de ar interior, nomeadamente no que respeita à prevenção de micro- contaminações (C38), como por exemplo a legionella.



Conforto Térmico

As medidas aplicadas para reforçar o isolamento térmico, bem como as medidas solares passivas e activas adoptadas, permitirão obter valores de conforto térmico (C39) adequados no interior das habitações.



Iluminação

Pelo que se pode observar na visita ao local, os níveis de iluminação (C40) deverão também ser bastante confortáveis, nomeadamente através do aproveitamento da iluminação natural (C41) considerada no dimensionamento das janelas.




             Figura 6 - Gestão da iluminação natural: fenestração e protecção contra a incidência solar



Acústica

É evidente a introdução de medidas para a redução de ruído, através do reforço do isolamento acústico (C42), quer nas paredes exteriores, quer nas zonas interiores mais sensíveis (quartos).



Gestão Ambiental e Inovação



Gestão Ambiental

A sensibilização dos futuros moradores foi assegurada nos vários momentos de desenvolvimento e de apresentação do Empreendimento (encontros conjuntos que reúnem promotor, construtor, projectista e autarquia e que foram apoiados pela emissão de dossiers actualizados sobre o Empreendimento). As acções de sensibilização culminaram com a edição do Manual do Cooperador Proprietário de Uso e de Manutenção do Imóvel, distribuído aquando da entrega das habitações, documento este que divulgou a informação ambiental (C48) relevante sobre o edifício e sobre a sua adequada utilização.

Para além deste aspecto é ainda de referir que será desenvolvida uma monitorização energética e ambiental, social e económica (implicadas pelo projecto SHE), que permitirá acompanhar e controlar o desempenho do edifício.


O texto anterior é um excerto do livro: Pinheiro, M. D., Conselho Científico: Correia, F., Branco, F., Guedes, M., (2006, Julho). Ambiente e Construção Sustentável , Instituto do Ambiente, 240 p, Amadora, Portugal. (ISBN: 972-8577-32-x)

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